Infecções podem ser fatais para crianças com câncer
14 November 2024
Como oncologista pediátrica do Hospital for Sick Children (SickKids), em Toronto, no Canadá, a professora Lillian Sung é especializada no tratamento de crianças com leucemia ou linfoma, tipos de câncer do sangue. Desde o início de sua carreira, no final da década de 1990, ela testemunhou uma melhora significativa nos desfechos de crianças com essas doenças, graças às inovações nas terapias oncológicas, incluindo a imunoterapia e a melhor caracterização de risco.
“Atualmente, a expectativa de cura é de mais de 80% para crianças recém-diagnosticadas com câncer em países de alta renda, e esse número está começando a aumentar nos países de baixa e média renda”, diz Lillian.
No entanto, as infecções continuam representando uma séria ameaça aos pacientes com câncer. Como as terapias oncológicas podem danificar seus sistemas imunológicos, esses pacientes se tornam particularmente vulneráveis a infecções bacterianas e fúngicas. Quando há um caso de resistência aos antibióticos de primeira linha – ou seja, quando a infecção não responde ao tratamento – os médicos recorrem a antibióticos mais potentes.
“Algumas infecções bacterianas são facilmente tratadas e, após um ciclo de antibióticos, a infecção desaparece”, diz Lillian. “Mas elas também podem ser difíceis de tratar e levar a uma morbidade significativa. Elas podem causar infecções da corrente sanguínea ou nos pulmões. E podem deixar as crianças tão doentes que precisam ir para a unidade de terapia intensiva e até mesmo ser colocadas em aparelhos de ventilação mecânica. Nos piores casos, a criança pode morrer.”
Como especialista em cuidados paliativos, inclusive no controle de infecções, que contribuem para o bem-estar e a sobrevivência de crianças com câncer, Lillian alerta para o risco de infecções resistentes a medicamentos em pacientes oncológicos. Ela apoia os esforços contínuos de harmonização das guias de conduta clínica dentro das instituições e entre diferentes regiões.
“As diretrizes terapêuticas recomendam condutas clínicas com base em evidências. Elas nos permitem entender qual é o antibiótico de amplo espectro, ou o mais específico, que podemos usar e qual é a duração mais curta possível para que possamos tratar os pacientes e evitar a ocorrência de resistência aos antibióticos”, diz Lillian.
No que diz respeito à resistência aos antibióticos, o reconhecimento da importância dos protocolos clínicos e das diretrizes terapêuticas é um dos desenvolvimentos mais importantes que Lillian testemunhou desde o início de sua carreira. Porém, ainda há muito trabalho a ser feito.
“Imagine um mundo no qual os organismos se tornem resistentes a todos os tipos de antibióticos. Em vez do câncer ser o principal problema, as infecções poderiam se tornar o maior desafio. Você consegue imaginar dizer a uma criança com uma infecção grave que não há tratamento para elas? Precisamos fazer de tudo para evitar um mundo assim”, diz Lillian.
A professora Lillian Sung integra a força-tarefa sobre resistência aos antimicrobianos e tratamento do câncer da União Internacional para o Controle do Câncer.